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Ondjaki

Foto do escritor: mapasconfinamentomapasconfinamento

Atualizado: 21 de fev. de 2022






1.

"do isolamento acompanhado de ternura"



o tempo passa;

o vento devagaroso

vai afiando as pedras.


o mesmo rugido do mar

chega ao peito

e grita


às vezes fica belo

o mar

com o seu grito;

às vezes fica bela

a vida

com o seu tempo

que grita.





2.

"da ternura acompanhada do isolamento"



havia uma caixa de brincar

que estava cheia de muitos vazios.


como se brinca com esses tantos vazios?

e se os vazios estiverem transbordantes de sons?

e se o som do vazio estiver

cheio de lugares?


havia uma caixa de brincar

que estava cheia de músicas.

depois de ouvir as músicas

e os silêncios

veio a brincadeira de inventar caixas.


a primeira caixa vazia que inventei

quando espreitada

libertava sorrisos.


a última caixa, quase vazia,

não tinha fundo:

servia para coleccionar amizades e amigos.



 

Ondjaki nasceu em Luanda. Prosador e poeta, co-realizou um documentário sobre a cidade de Luanda (“Oxalá cresçam Pitangas – histórias de Luanda”, 2006). É membro da União dos Escritores Angolanos e da Associação Protetora do Anonimato dos Gambozinos. Alguns livros seus foram traduzidos para francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sérvio e sueco. Venceu o prémio José Saramago em 2013 com o romance Os Transparentes.

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