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Maria Teresa Horta

Atualizado: 28 de fev. de 2022





PERECÍVEL


Apesar de perecível

vai-se inventando

o poema


com a mão do sobressalto

a partir do indizível


Com versos de arte

e espinho

entre soneto e sonata


Cantata e violino




ASA SECRETA


Quem conhece

a alma

dos poetas?


A chama

do desconcerto

a paixão entreaberta


Quem sabe do

indizível

o voo da asas secreta


Sussurro do invisível

onde

o tempo desacerta




GOLPE DE MÃO


Conforme o destino me derruba

e eu me ergo

ignorando a pancada com um golpe de mão


A febre das folhas na raiz

do silêncio


O negrume do medo

a ferir de raspão


De borco fica a morte

a finura da asa

a fissura da alma que se enleia


A dúvida acesa

sem que nunca se acalme

e me vai magoando a vida inteira


("Inquietude")




PONTO DE HONRA


Desassossego a paixão

espaço aberto nos meus braços

Insubordino o amor

desobedeço e desfaço


Desacerto o meu limite

incendeio o tempo todo

Vou traçando o feminino

tomo rasgo e desatino


Contrario o meu destino

digo oposto do que ouço


Evito o que me ensinaram

invento troco disponho

Recuso ser meu avesso

matando aquilo que sonho


Salto ao eixo da quimera

saio voando no gosto


Sou bruxa

Sou feiticeira

Sou poetisa e desato


Escrevo

e cuspo na fogueira


("Inquitude")



 

Maria Teresa estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e foi dirigente do ABC Cine-Clube. Integrou o Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, as Três Marias. Em conjunto lançaram o livro Novas Cartas Portuguesas, que na época teve um forte impacto e gerou grande contestação. Fez parte do grupo Poesia 61. Publicou diversos textos em jornais como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias e Jornal de Letras e Artes, entre outros. Foi também chefe de redação da revista Mulheres a convite do Partido Comunista Português, do qual foi militante durante 14 anos. Publicou cerca de quarenta livros, entre ficção e poesia. Foi galardoada com o Prémio D. Dinis 2011 da Fundação Casa de Mateus pela obra "As Luzes de Leonor", o Prémio Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores e o Prémio Literário Casino da Póvoa 2021, entre outros.

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